Contra a Tortura Policial

Um jovem brasileiro de 18 anos estava no dia 17 de novembro de manhã, às 9h30, no Martim Moniz. Esperava uma entrevista de emprego quando foi abordado por polícias não identificados, tendo sido brutalmente espancado e sem qualquer motivo criminal detido e levado para a esquadra de Moscavide. O jovem em seguida foi levado ao hospital e novamente encarcerado na esquadra.

Mais uma pessoa negra, cigana, migrante, ou pobre agredida por polícias.
Espancada e insultada como muitas nas ruas, nas esquadras, nas prisões do estado português.

Mesmo sem perturbar a chamada ordem pública, nós, nossxs amigues, companheires, filhas, filhos, podem ser sistematicamente abordadas por polícias não identificados, brutalmente espancadas e detidas de forma arbitrária.

Outro espancamento e outra detenção que é apenas um exercício de poder, violento, racista, xenófobo, patriarcal e, se queremos usar as palavras do “sistema de justiça”: ilegal.
Praticado com a conivência do Estado e das demais instituições.

Mais uma mãe migrante, negra, cigana ou pobre, enganada e a quem é recusada informação sobre o estado do seu filho detido e obrigada a procurá-lo durante horas entre esquadras e hospitais.

Mais uma mãe que encontra o seu filho com a cara pisada, olhos esmurrados, peito com escoriações e quase sem conseguir andar devido aos espancamentos que lhe infligiram nas pernas e no corpo todo.

E finalmente, médicos coniventes com a tortura aplicada pela polícia, que não escrevem um relatório digno, nem explicam à mãe em que condição se encontra o seu filho espancado e novamente detido.

Tudo isto sucede no mesmo dia em que é divulgada mais uma investigação que denuncia a infiltração da extrema-direita dentro das forças policiais portuguesas.

 

NÃO FICAMOS CALADES PERANTE TANTA VIOLÊNCIA!
QUEBREMOS O ISOLAMENTO DOS QUE SOFREM A VIOLÊNCIA POLICIAL!

CONTRA TODAS AS FORÇAS ARMADAS,

CONTRA A VIOLÊNCIA DO ESTADO,

PELAS PESSOAS PRESAS EM LUTA!

CONVOCAMOS AS PESSOAS AFETADAS, SOLIDÁRIAS E COLETIVOS, A PARTICIPAREM NUMA CONCENTRAÇÃO NO MARTIM MONIZ, NO DIA 3 DE DEZEMBRO ÀS 17H.
MOSTRAMOS A NOSSA SOLIDARIEDADE! ESTAMOS JUNTES!

NÃO ESQUECEMOS, NEM PERDOAMOS!

About Vozes de Dentro

Somos um grupo de pessoas presas, presos e pessoas que do outro lado dos muros acompanham e participam, de diferentes formas, nas lutas das pessoas reclusas e das suas famílias. As pessoas privadas de liberdade e especialmente as pobres, racializadas, mulheres, transgéneros e crianças enfrentam condições desumanas, violência física e psicológica nas prisões. As histórias destas pessoas são altamente invisibilizadas, e, por isso, expostas a constantes violações dos seus direitos fundamentais (1). Em particular, Portugal é dos países europeus onde mais morrem reclusa/os (2) e as prisões portuguesas têm sido por diversas vezes alvo de críticas do Conselho da Europa, nomeadamente do Comité Contra a Tortura. Conjuntamente, encontra-se entre os países da Europa onde se condena mais a penas de prisão, por períodos mais longos e onde a sobrelotação é uma realidade. Os índices de encarceramento são altos especialmente entre as mulheres, também condenadas a penas maiores, e não existem dados oficiais sobre o número de pessoas transgénero, bem como sobre a pertença étnico-racial (1, 3). Testemunhos de reclusas e reclusos e seus familiares indicam o frequente recurso a fármacos sedativos, anti psicóticos e anti convulsivos sem uma conexão clara com a necessidade clínica dos próprios fármacos, mas mais claramente em coerência com a atitude repressiva do sistema prisional (4). A maioria dos estabelecimentos prisionais caracterizam-se por graves problemas nas infraestruturas, péssima alimentação, falta de acesso a bens e produtos essenciais. Os cuidados de saúde são também precários e deficitários, com a maioria de profissionais de saúde subcontratada. A atividade laboral remunerada é parca e traduz-se, maioritariamente, na exploração e as ofertas formativas são poucas. Isto, aliado à baixa aplicação de medidas de flexibilização de penas, ao inexistente apoio para a reinserção social, ao isolamento social a que ficam sujeitas as pessoas presas com severas limitações de contato com as suas famílias e comunidades e os percursos prévios de institucionalização que muitas viveram previamente à prisão, configura os ciclos de pobreza-exclusão-institucionalização-violência (5). Na prisão as discriminações, violências e a exploração persistem e são exacerbadas remetendo-as para invisibilidade, abandono social e marginalização. O objetivo deste grupo é de visibilizar a realidade obscurecida das prisões e pensar coletivamente possíveis ações de apoio para quem está dentro. View all posts by Vozes de Dentro

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