Não estamos todas, faltam as presas!

8 de Março Dia Internacional das Mulheres

Não estamos todas, faltam as presas!

Somos um coletivo chamado Vozes de Dentro, constituído por pessoas presas e pessoas que do outro lado dos muros acompanham e participam, de diferentes formas, nas lutas das pessoas presas e das suas famílias.

Estamos aqui hoje por todas as mulheres, pessoas trans e todas aquelas que transgridem as normas de género e cuja luta se desenvolve dentro das prisões. As histórias destas pessoas são altamente invisibilizadas, e, por isso, expostas a constantes violações dos seus direitos fundamentais.

Nas prisões as pessoas privadas de liberdade e especialmente as pobres, racializadas, mulheres, transgéneros e crianças enfrentam condições desumanas, violência física e psicológica. Confinamento e quarentena na prisão significa ficar mais de 22h fechada na cela, acesso a uma chamada telefónica por dia o que comporta graves violações dos seus direitos humanos colocando as suas vidas em risco.

Em particular, Portugal é dos países europeus onde mais morrem reclusas e reclusos e os Estabelecimentos Prisionais portugueses têm sido por diversas vezes alvo de críticas do Conselho da Europa, nomeadamente do Comité Contra a Tortura. Encontra-se também entre os países da Europa onde se condena mais a penas de prisão, por períodos mais longos e onde a sobrelotação das cadeias é uma realidade.

Os índices de encarceramento são altos especialmente entre as mulheres, também condenadas a penas maiores, e não existem dados oficiais sobre o número de pessoas transgénero, bem como sobre a pertença étnico-racial.

Os cuidados de saúde são também precários e deficitários, com a maioria de profissionais de saúde subcontratada, sem formação adequada, ou que têm pouco interesse nos cuidados das pessoas presas. Testemunhos de quem está dentro e de seus familiares indicam o frequente recurso a fármacos sedativos, antipsicóticos e anticonvulsivos sem uma conexão clara com a necessidade clínica dos próprios fármacos, mas mais claramente em coerência com a atitude repressiva do sistema prisional.

Grande parte dos estabelecimentos prisionais padece dos mesmos problemas: infraestruturas decadentes, alimentação degradante que promove a desnutrição e restrição de acesso a bens e produtos essenciais. A atividade laboral remunerada é parca e traduz-se, maioritariamente, na exploração e as ofertas formativas são poucas.

Na prisão as discriminações, violências e a exploração persistem e são exacerbadas remetendo as pessoas presas para a invisibilidade, o abandono e marginalização sociais.

As mulheres com familiares na prisão estão também sujeitas à exclusão e violência, pois são elas que cuidam de quem está “dentro”, suportando na família e nas comunidades as consequências económicas e sociais do encarceramento. As crianças com pai e/ou mãe em reclusão foram também alvo de violação dos seus direitos fundamentais, impedidas de estabelecer contacto com as/os suas/seus cuidadores. Existem milhares de crianças com pai e/ou mãe na prisão e esta é uma realidade silenciada e invisível.

O objetivo deste grupo é visibilizar a realidade obscurecida das prisões e pensar coletivamente possíveis ações de apoio para quem está dentro.

Todas as pessoas que queiram juntar-se ou dar o seu testemunho contra estes centros de extermínio serão bem vindas.

Não estamos todas, faltam as presas!

About Vozes de Dentro

Somos um grupo de pessoas presas, presos e pessoas que do outro lado dos muros acompanham e participam, de diferentes formas, nas lutas das pessoas reclusas e das suas famílias. As pessoas privadas de liberdade e especialmente as pobres, racializadas, mulheres, transgéneros e crianças enfrentam condições desumanas, violência física e psicológica nas prisões. As histórias destas pessoas são altamente invisibilizadas, e, por isso, expostas a constantes violações dos seus direitos fundamentais (1). Em particular, Portugal é dos países europeus onde mais morrem reclusa/os (2) e as prisões portuguesas têm sido por diversas vezes alvo de críticas do Conselho da Europa, nomeadamente do Comité Contra a Tortura. Conjuntamente, encontra-se entre os países da Europa onde se condena mais a penas de prisão, por períodos mais longos e onde a sobrelotação é uma realidade. Os índices de encarceramento são altos especialmente entre as mulheres, também condenadas a penas maiores, e não existem dados oficiais sobre o número de pessoas transgénero, bem como sobre a pertença étnico-racial (1, 3). Testemunhos de reclusas e reclusos e seus familiares indicam o frequente recurso a fármacos sedativos, anti psicóticos e anti convulsivos sem uma conexão clara com a necessidade clínica dos próprios fármacos, mas mais claramente em coerência com a atitude repressiva do sistema prisional (4). A maioria dos estabelecimentos prisionais caracterizam-se por graves problemas nas infraestruturas, péssima alimentação, falta de acesso a bens e produtos essenciais. Os cuidados de saúde são também precários e deficitários, com a maioria de profissionais de saúde subcontratada. A atividade laboral remunerada é parca e traduz-se, maioritariamente, na exploração e as ofertas formativas são poucas. Isto, aliado à baixa aplicação de medidas de flexibilização de penas, ao inexistente apoio para a reinserção social, ao isolamento social a que ficam sujeitas as pessoas presas com severas limitações de contato com as suas famílias e comunidades e os percursos prévios de institucionalização que muitas viveram previamente à prisão, configura os ciclos de pobreza-exclusão-institucionalização-violência (5). Na prisão as discriminações, violências e a exploração persistem e são exacerbadas remetendo-as para invisibilidade, abandono social e marginalização. O objetivo deste grupo é de visibilizar a realidade obscurecida das prisões e pensar coletivamente possíveis ações de apoio para quem está dentro. View all posts by Vozes de Dentro

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