Sede, fome e sufoco de um verão atrás das grades

 

Sede, fome e sufoco de um verão atrás das grades

não é novidade os cortes de água fria ou quente nas prisões portuguesas ou o “racionamento de água” como justificado pela direção do EP de Vale de Judeus, a comida intragável que nada é mais do que veneno, as greves de guardas que querem ir curtir o Verão, os dias de calor abrasivo e sufocante dentro das celas sobrelotadas, ou o isolamento atroz e bafiento que enfrentam as que resistem e lutam pela vida atrás das grades…

na cadeia de Vale de Judeus presos enfrentam mais um Verão com sucessivos períodos sem água que os impede de suprir dignamente necessidades básicas tais como beber água, tomar banho, lavar roupa…

familiares de presos em Vale de Judeus desesperam na impotência de poderem “matar a sede” de quem têm de cuidar, acrescentando as dificuldades de acesso a esta prisão longe de tudo e com escassos transportes públicos que tornam dispendiosas e mais torturantes as idas à visita…

estes cortes de água não se tratam de meros acidentes pontuais em Vale de Judeus ou como acontece na maioria das cadeias portuguesas onde a tortura, desumanização e violência são reiteradamente usadas para o sacrifício silencioso de pessoas presas e suas famílias.

toda a nossa solidariedade com as pessoas presas e as suas famílias!

Contra todas as prisões e as sociedades que delas precisam!

Por um mundo sem prisões onde todes sejamos livres!

About Vozes de Dentro

Somos um grupo de pessoas presas, presos e pessoas que do outro lado dos muros acompanham e participam, de diferentes formas, nas lutas das pessoas reclusas e das suas famílias. As pessoas privadas de liberdade e especialmente as pobres, racializadas, mulheres, transgéneros e crianças enfrentam condições desumanas, violência física e psicológica nas prisões. As histórias destas pessoas são altamente invisibilizadas, e, por isso, expostas a constantes violações dos seus direitos fundamentais (1). Em particular, Portugal é dos países europeus onde mais morrem reclusa/os (2) e as prisões portuguesas têm sido por diversas vezes alvo de críticas do Conselho da Europa, nomeadamente do Comité Contra a Tortura. Conjuntamente, encontra-se entre os países da Europa onde se condena mais a penas de prisão, por períodos mais longos e onde a sobrelotação é uma realidade. Os índices de encarceramento são altos especialmente entre as mulheres, também condenadas a penas maiores, e não existem dados oficiais sobre o número de pessoas transgénero, bem como sobre a pertença étnico-racial (1, 3). Testemunhos de reclusas e reclusos e seus familiares indicam o frequente recurso a fármacos sedativos, anti psicóticos e anti convulsivos sem uma conexão clara com a necessidade clínica dos próprios fármacos, mas mais claramente em coerência com a atitude repressiva do sistema prisional (4). A maioria dos estabelecimentos prisionais caracterizam-se por graves problemas nas infraestruturas, péssima alimentação, falta de acesso a bens e produtos essenciais. Os cuidados de saúde são também precários e deficitários, com a maioria de profissionais de saúde subcontratada. A atividade laboral remunerada é parca e traduz-se, maioritariamente, na exploração e as ofertas formativas são poucas. Isto, aliado à baixa aplicação de medidas de flexibilização de penas, ao inexistente apoio para a reinserção social, ao isolamento social a que ficam sujeitas as pessoas presas com severas limitações de contato com as suas famílias e comunidades e os percursos prévios de institucionalização que muitas viveram previamente à prisão, configura os ciclos de pobreza-exclusão-institucionalização-violência (5). Na prisão as discriminações, violências e a exploração persistem e são exacerbadas remetendo-as para invisibilidade, abandono social e marginalização. O objetivo deste grupo é de visibilizar a realidade obscurecida das prisões e pensar coletivamente possíveis ações de apoio para quem está dentro. View all posts by Vozes de Dentro

Comments are disabled.