“Estamos sem respiração, o que ajuda é a ventoinha e quem não tem dinheiro não pode comprar. Este tipo de janela não está na lei.”

Olá sou uma reclusa com 55 anos, levo mais de 4 anos nesta prisão.

Há um mês dei uma queda na casa de banho, fiquei 10 minutos sem me mexer a respirar devagarinho e uma colega de cela é que me auxiliou. Me pegou, sentou numa cadeira, não podia mexer a perna direita, ficando os tendões presos e joelho inchado.

A mesma perna já tinha sido partida há tempos em 2 lados, a colega de cela chamou as guardas e a única coisa que me deram foi gelo e paracetamol. Continuei com os tendões presos e com dores, andei assim um mês e hoje atualmente continuo a sofrer da perna, assim como os tendões estão presos.

Se tive alguma lesão grave cicatrizou sem que ninguém me levasse ao médico. Só após 2 meses da queda é que o médico me chamou e viu o joelho inchado e só agora marcou raio-x, não sei é para quando.

Eu agradeço,se tiver alguma lesão, quem é responsável digam-me.

Outra queixa, estamos numa camarata onde temos uma janela que tem uma rede de ferro com buraquinhos e a frente tem uma persiana que não se vê nada. 

Outro assunto que vou expor é que quando vamos ao refeitório à saída, não nos deixam trazer o nosso pão nem a fruta que nos pertence para a cela, dizem que fazem queixa ao director e cortam a precaria. Jantamos às 17.30 e só voltamos a comer ao outro dia as 8.30, passamos fome. Preferem deitar a comida no lixo do que dar as reclusas. Tenho colesterol, não dão dieta equilibrada é só gorduras, não se pode comer, ficando com fome porque não consigo comer aquela comida.

Muito obrigada pela atenção.

 

About Vozes de Dentro

Somos um grupo de pessoas presas, presos e pessoas que do outro lado dos muros acompanham e participam, de diferentes formas, nas lutas das pessoas reclusas e das suas famílias. As pessoas privadas de liberdade e especialmente as pobres, racializadas, mulheres, transgéneros e crianças enfrentam condições desumanas, violência física e psicológica nas prisões. As histórias destas pessoas são altamente invisibilizadas, e, por isso, expostas a constantes violações dos seus direitos fundamentais (1). Em particular, Portugal é dos países europeus onde mais morrem reclusa/os (2) e as prisões portuguesas têm sido por diversas vezes alvo de críticas do Conselho da Europa, nomeadamente do Comité Contra a Tortura. Conjuntamente, encontra-se entre os países da Europa onde se condena mais a penas de prisão, por períodos mais longos e onde a sobrelotação é uma realidade. Os índices de encarceramento são altos especialmente entre as mulheres, também condenadas a penas maiores, e não existem dados oficiais sobre o número de pessoas transgénero, bem como sobre a pertença étnico-racial (1, 3). Testemunhos de reclusas e reclusos e seus familiares indicam o frequente recurso a fármacos sedativos, anti psicóticos e anti convulsivos sem uma conexão clara com a necessidade clínica dos próprios fármacos, mas mais claramente em coerência com a atitude repressiva do sistema prisional (4). A maioria dos estabelecimentos prisionais caracterizam-se por graves problemas nas infraestruturas, péssima alimentação, falta de acesso a bens e produtos essenciais. Os cuidados de saúde são também precários e deficitários, com a maioria de profissionais de saúde subcontratada. A atividade laboral remunerada é parca e traduz-se, maioritariamente, na exploração e as ofertas formativas são poucas. Isto, aliado à baixa aplicação de medidas de flexibilização de penas, ao inexistente apoio para a reinserção social, ao isolamento social a que ficam sujeitas as pessoas presas com severas limitações de contato com as suas famílias e comunidades e os percursos prévios de institucionalização que muitas viveram previamente à prisão, configura os ciclos de pobreza-exclusão-institucionalização-violência (5). Na prisão as discriminações, violências e a exploração persistem e são exacerbadas remetendo-as para invisibilidade, abandono social e marginalização. O objetivo deste grupo é de visibilizar a realidade obscurecida das prisões e pensar coletivamente possíveis ações de apoio para quem está dentro. View all posts by Vozes de Dentro

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