“E se fosse contigo?” – Manifestação Nacional Familiar – 14 de Setembro de 2024

A 15 de setembro de 2021, duas mães recebiam a notícia que os seus filhos tinham falecido no Estabelecimento Prisional de Lisboa. Três anos depois, ainda não sabem o que aconteceu a Danijoy Pontes (23) e Daniel Rodrigues (37), sendo que a única resposta que receberam por parte das instituições que tutelavam as suas vidas foi que ambos morreram de causas naturais. Ninguém morre de causas naturais dentro de uma prisão. Locais infames onde homens e mulheres são vítimas de violências quotidianas da parte de guardas, educadorxs, enfermeiras e psiquiatras, com total arbitrariedade e impunidade. A isto acresce o sofrimento de familiares e amigos que desde fora sentem a impotência ao tentar ajudar os seus, legitimada por um sistema desenhado e gerido por sádicos e torturadores. Desde então, Alice Santos e Luísa Santos não pararam de exigir justiça para os seus filhos, e que a sua memória não se apague nunca. Assim este ano juntamo-nos à manifestação de apoio a Cláudia Simões, mulher negra que resistiu e sobreviveu à violência de um agente a soldo do estado português mas que acabou condenada pelos representantes de uma justiça racista e classista por, em legítima defesa, morder o seu verdugo, o qual foi absolvido de todas as agressões que lhe infligiu.

No sábado, dia 14 de setembro, encontramo-nos às 16h em frente ao EPL, para gritar bem alto que resistiremos com os dentes afiados a todas as tentativas de silenciamento dos/as mortos/as nas prisões e das vítimas de violência policial!

About Vozes de Dentro

Somos um grupo de pessoas presas, presos e pessoas que do outro lado dos muros acompanham e participam, de diferentes formas, nas lutas das pessoas reclusas e das suas famílias. As pessoas privadas de liberdade e especialmente as pobres, racializadas, mulheres, transgéneros e crianças enfrentam condições desumanas, violência física e psicológica nas prisões. As histórias destas pessoas são altamente invisibilizadas, e, por isso, expostas a constantes violações dos seus direitos fundamentais (1). Em particular, Portugal é dos países europeus onde mais morrem reclusa/os (2) e as prisões portuguesas têm sido por diversas vezes alvo de críticas do Conselho da Europa, nomeadamente do Comité Contra a Tortura. Conjuntamente, encontra-se entre os países da Europa onde se condena mais a penas de prisão, por períodos mais longos e onde a sobrelotação é uma realidade. Os índices de encarceramento são altos especialmente entre as mulheres, também condenadas a penas maiores, e não existem dados oficiais sobre o número de pessoas transgénero, bem como sobre a pertença étnico-racial (1, 3). Testemunhos de reclusas e reclusos e seus familiares indicam o frequente recurso a fármacos sedativos, anti psicóticos e anti convulsivos sem uma conexão clara com a necessidade clínica dos próprios fármacos, mas mais claramente em coerência com a atitude repressiva do sistema prisional (4). A maioria dos estabelecimentos prisionais caracterizam-se por graves problemas nas infraestruturas, péssima alimentação, falta de acesso a bens e produtos essenciais. Os cuidados de saúde são também precários e deficitários, com a maioria de profissionais de saúde subcontratada. A atividade laboral remunerada é parca e traduz-se, maioritariamente, na exploração e as ofertas formativas são poucas. Isto, aliado à baixa aplicação de medidas de flexibilização de penas, ao inexistente apoio para a reinserção social, ao isolamento social a que ficam sujeitas as pessoas presas com severas limitações de contato com as suas famílias e comunidades e os percursos prévios de institucionalização que muitas viveram previamente à prisão, configura os ciclos de pobreza-exclusão-institucionalização-violência (5). Na prisão as discriminações, violências e a exploração persistem e são exacerbadas remetendo-as para invisibilidade, abandono social e marginalização. O objetivo deste grupo é de visibilizar a realidade obscurecida das prisões e pensar coletivamente possíveis ações de apoio para quem está dentro. View all posts by Vozes de Dentro

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