Comunicado de solidariedade com as antifascistas presas em Budapeste

(english below)

Num país onde o governo fascista une as massas com declarações racistas e anti-semitas, isto não surpreende. A situação política na Hungria para as pessoas anti-fascistas, ciganas sinti e roma, queers e outros grupos discriminados tem sido difícil de suportar há muito tempo.

Atrás das grades estão as anti-fascistas presas e expostas a esta atmosfera hostil. Além do isolamento que enfrentam acrescenta-se as condições subhumanas nas prisões húngaras, que não são apenas as mais antigas, mas também as mais sobrelotadas da UE.

Em particular, hoje começa o processo a Ilaria Salis, professora de 39 anos de origem sarda que está presa em Budapeste desde há quase um ano sob a acusação de atacar dois neo-nazis. O advogado de defesa, Gyorgy Magyar, comunicou a uma agência de informação italiana que o Ministério Público propõe uma pena de 11 anos de prisão para Ilaria Salis.

Numa carta publicada há alguns meses, Ilaria descreveu o seu estado: com “algemas”, “um cinto amarrado às algemas” e “outra algema à qual está presa uma trela” e com uma “situação alimentar” descrita como “catastrófica”.

O advogado acrescenta que Salis sofre com as condições de encarceramento extremo a que está sujeita, «a sua detenção sob estrita vigilância, o impedimento durante muito tempo do contacto com a sua família e com as autoridades italianas. Ela é tratada como uma perigosa terrorista internacional.»

Os pedidos para que Ilaria Salis pudesse cumprir a pena em prisão domiciliária em Itália foram rejeitados pelas autoridades húngaras.

Lembramos que também em Portugal os neo-nazis se queriam manifestar livremente pelas ruas do Intendente, Martim-Moniz e Benformoso, zona da cidade com um grande número de população imigrante. Só com a pressão de coletivos anti-fascistas e anti-racistas é que o governo decidiu tomar uma posição, revelando a sua complacência. Também um partido fascista, onde os neo-nazis depositam a sua confiança e vêem o seu discurso legitimado, continua presente no nosso parlamento e a crescer.

Somos solidáries com todas as pessoas anti-fascistas presas. Desejamos muita força a todes estes companheires que apesar das circunstâncias mantêm a sua posição. Estas companheiras precisam do nosso apoio, agora mais do que nunca! ✊🖤❤️‍🔥

As prisões são fascistas, uma ferramenta para eliminar a dissidência, a resistência e a revolta.

Contra todas as prisões e as sociedades que delas precisam!

Solidariedade com as pessoas presas na Hungria! Todes Livres!

 

(english)

Statement of solidarity with anti-fascists arrested in Budapest

The political situation in Hungary for anti-fascists, Sinti and Roma, queers and other discriminated groups has been difficult to bear for a long time. Behind bars, anti-fascists are trapped and exposed to this hostile atmosphere. On top of the isolation they face are the subhuman conditions in Hungarian prisons, which are not only the oldest but also the most overcrowded in the EU.

In particular, today sees the start of the trial of Ilaria Salis, a 39-year-old teacher of Sardinian origin who has been imprisoned in Budapest for almost a year on charges of attacking two neo-Nazis. The defense lawyer, Gyorgy Magyar, told an Italian news agency that the prosecution is proposing an 11-year prison sentence for Ilaria Salis. In a letter published a few months ago, Ilaria described her condition: with “handcuffs”, “a belt tied to the handcuffs” and “another handcuff to which a leash is attached” and with a “food situation” described as “catastrophic”. The lawyer adds that Salis suffers from the conditions of extreme imprisonment to which she is subjected, “her detention under strict surveillance, the longstanding prevention of contact with her family and the Italian authorities. She is treated as a dangerous international terrorist.” Requests to allow Ilaria Salis to serve her sentence under house arrest in Italy were rejected by the Hungarian authorities.

We remember that in Portugal, too, neo-Nazis wanted to demonstrate freely in the streets of Intendente, Martim-Moniz and Benformoso, areas of the city with a large immigrant population. It was only under pressure from anti-fascist and anti-racist collectives that the government decided to take a stand, revealing its complacency.

We stand in solidarity with all the anti-fascists who have been arrested. We wish great strength to all these comrades who, despite the circumstances, are standing their ground. These comrades need our support, now more than ever! ✊🖤❤️‍🔥

Prisons are fascist, a tool to eliminate dissent, resistance and revolt.

Against all prisons and the societies that need them!

Solidarity with the people imprisoned in Hungary! All Free!

About Vozes de Dentro

Somos um grupo de pessoas presas, presos e pessoas que do outro lado dos muros acompanham e participam, de diferentes formas, nas lutas das pessoas reclusas e das suas famílias. As pessoas privadas de liberdade e especialmente as pobres, racializadas, mulheres, transgéneros e crianças enfrentam condições desumanas, violência física e psicológica nas prisões. As histórias destas pessoas são altamente invisibilizadas, e, por isso, expostas a constantes violações dos seus direitos fundamentais (1). Em particular, Portugal é dos países europeus onde mais morrem reclusa/os (2) e as prisões portuguesas têm sido por diversas vezes alvo de críticas do Conselho da Europa, nomeadamente do Comité Contra a Tortura. Conjuntamente, encontra-se entre os países da Europa onde se condena mais a penas de prisão, por períodos mais longos e onde a sobrelotação é uma realidade. Os índices de encarceramento são altos especialmente entre as mulheres, também condenadas a penas maiores, e não existem dados oficiais sobre o número de pessoas transgénero, bem como sobre a pertença étnico-racial (1, 3). Testemunhos de reclusas e reclusos e seus familiares indicam o frequente recurso a fármacos sedativos, anti psicóticos e anti convulsivos sem uma conexão clara com a necessidade clínica dos próprios fármacos, mas mais claramente em coerência com a atitude repressiva do sistema prisional (4). A maioria dos estabelecimentos prisionais caracterizam-se por graves problemas nas infraestruturas, péssima alimentação, falta de acesso a bens e produtos essenciais. Os cuidados de saúde são também precários e deficitários, com a maioria de profissionais de saúde subcontratada. A atividade laboral remunerada é parca e traduz-se, maioritariamente, na exploração e as ofertas formativas são poucas. Isto, aliado à baixa aplicação de medidas de flexibilização de penas, ao inexistente apoio para a reinserção social, ao isolamento social a que ficam sujeitas as pessoas presas com severas limitações de contato com as suas famílias e comunidades e os percursos prévios de institucionalização que muitas viveram previamente à prisão, configura os ciclos de pobreza-exclusão-institucionalização-violência (5). Na prisão as discriminações, violências e a exploração persistem e são exacerbadas remetendo-as para invisibilidade, abandono social e marginalização. O objetivo deste grupo é de visibilizar a realidade obscurecida das prisões e pensar coletivamente possíveis ações de apoio para quem está dentro. View all posts by Vozes de Dentro

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