Falsa Sensação – Poesia no RAI em prisão feminina

 

 

Falsa Sensação_Poesia do RAI_VozesdeDentro

 

FALSA SENSAÇÃO

Não vejo mais grades, não vejo mais celas sendo trancadas.

Vivo num quarto, dentro de uma casa.

Vou para o sofá quando eu quero,

volto para o quarto quando eu quero.

Parece que estou na minha casa,

mas não no meu lar.

Me sinto livre, mas não liberta.

A tortura emocional é excessiva.

Estou com a liberdade a poucos passos, mas nunca chega.

Parece que estou caminhando em um corredor sem fim.

Será que era melhor ver grades?

Será que era melhor ver celas sendo trancadas?

Talvez sim, talvez não.

O que me separa da liberdade é, “apenas”, um portão.

Tão perto, mas tão longe.

Enquanto eu não chego ao fim do corredor,

vou sentindo esse gosto amargo,

de uma falsa sensação de liberdade.


“Tu e eu fomos presas, nos separaram com uma lei que não existe. Não há uma lei que tira os filhos se tiverem mãe.”

 

 

 

Olá

Muito obrigada pelas fotos que me enviaste, chorei tanto e tanto. Mas as palavras que me escreveste me dão muito animo e apoio e tuas palavras são doces e meigas que entram de coração.

Uma vez mais obrigado.

Pois de estar fechada sem poder fazer nada pela minha princesa, ela vai ser adotada sem estar eu ou um familiar para travar essa adoção. Com raiva, com dor do meu coração, com impotência, sabendo que minha filha ia ser adotada eu dei em doida e cheguei a cortar-me a mim mesma, mas estou arrependida. Mas foi um desespero que tive,  mas já não voltará a suceder.

Cuesta muito que adotem a minha filha sem saber porquê, sem eu dar o consentimento. Me sequestraram a minha filha e a mim me puseram em uma jaula e sem saber da minha filha, me roubaram a minha filha, e com ela foi o meu coração.

Tu me dás muitas forças, ânimo e apoio, obrigada. Me fizeste feliz de eu ver as fotos da minha bebé. Ela é doce, mimosa, meiguinha, uma menina criada com amor, carinho, educação. Dá pra ver nas fotos. Eu quando sair vou a onde for para ver a minha menina, e vou falar com vizinhas, escolas onde a menina teve. Não vou atirar a toalha. Agora estou mal, caí e ainda não me levantei. Mas com o vosso apoio vou levantar-me e seguir pra frente.

Quando eu sair quero ver-te e tomamos um café, e dizer-te obrigada frente a ti amiga.

Eu quero que a menina venha novamente aos meus braços, é minha filha. Não tinham que fazer-me isso, não tem razão, ela não é maltratada nem pensar, mas com a minha verdade voltará a minha filha comigo. Tenho muita fé amiga. Não sabes a nódoa que tenho no meu coração. Estou muito magoada. Eu sou uma mãe sofrida e maltratada pelo meu ex companheiro. Eu vivia sozinha com a minha filha, eu trabalhava de ajudante de cozinha, minha filha ia a escolinha e eu ia trabalhar, eu e minha filha vivíamos como queríamos.

Um dia veio uma senhora com 3 filhos a minha casa, era minha família, eu lhes abri a porta e lhes dei tudo, cama, comer, amor, carinho. Ela tinha um irmão que me via pelo facebook, enfim ela veio a minha casa e trouxe o irmão, eu estava há 4 anos sozinha com minha filha. Ele veio e falámos e tudo bem uns meses. Ele tinha ciúmes doentios, [um dia] começou a dizer-me que [eu] tinha amantes debaixo do colchão. Apanhou a faca e começou a esfaquear o colchão, e [dizia] que [eu]  amantes nos armários começou por aí… se eu negava-lhe um beijo ele dizia que [eu] tinha amantes dentro da almofada. De isto começou a bater-me, eu tinha minha casa, meu trabalho, minha filha, estava bem.

Logo de uma chapada, começou a dar-me duas, etc. Partiu-me o lábio, um dedo, o nariz e assim começou a minha tortura, chegou a dar-me uma chapada na frente da minha filha, chamei a PSP.O levaram ao posto, o soltaram novamente, vinha a minha casa ameaçar-me que se não abria a porta que punha fogo a casa. Abri a porta,  nos apanhou minha filha e a mim, nos meteu no carro e nos levou. Logo os meus doutores ligaram, a perguntar donde estávamos minha filha e eu, e ele me dizia para eu dizer que estávamos na Madeira. Outra vez estávamos em Gouveia, íamos para  para Leiria e ele obrigou-me a dizer que estávamos em Chaves. No carro deu-me um murro que novamente me partiu o lábio. Ele só tinha na mente que eu o tinha de amar em todos os sítios. Logo nos levou minha filha e a mim para Espanha. Lá consegui fugir com minha filha e chamei a polícia espanhola porque estávamos sozinhas e precisávamos de ajuda. Eu não disse que estava a fugir dele. A polícia nos pagou uma pensão e nos pagou o bilhete para Portugal.

Fiquei novamente na minha casa, mas nunca pensei que ele vinha novamente a buscar-me. Eu fui para ao pé da minha mãe e deixei lá minha filha. Depois de tanta tortura e ameaças, não me deixava ter um telemóvel, se tivesse ele o partia. Uma vez que a menina estava na minha mãe ele disse-me: Vamos à praça de táxis, vamos à tua mãe e logo seguimos para Espanha a trabalhar. Alugámos o táxi e ele a meio do caminho roubou o táxi e deixou o taxista no meio da estrada. Viemos presos, eu por cúmplice e ele por roubar o carro e conduzir sem carta. FTotal, foi uma tortura que passei, tive medo e temi pela minha Vida. E por isso aqui estou presa.

Como a minha mãe é acamada não podia cuidar da minha princesa. E fui  buscar minha filha e ele me perseguiu, eu fugi chamei a polícia e me levaram ao hospital (pediatria) para nós dormir essa noite. Mas já tinha perdido tudo por causa do maltratador.

A assistente social me perguntou se eu e minha filha queríamos ir para uma instituição. Eu disse que sim. Mas para mim não havia vaga, só para a minha filha.Eu com dor dei minha própria filha para instituição, mas com dor de mãe. Era para que minha filha tivesse um teto, comida, escolinha. Total assinei para que a menina tivesse um ano na instituição, para eu procurar trabalho e uma casa.Perguntaram à minha bebé se a mamã era maltratada pelo companheiro e ela disse que sim, que ela via.

Vim presa, e tinha a minha filha na instituição. Tinha chamadas e videoconferência com minha bebé, ela tinha 4 aninhos. Teve na instituição dois anos, até que foi adoptada em 2022, sem o meu consentimento.Sem provas de nada, sem avisarem-me. Eu fiquei congelada, que minha filha foi adotada por ver que meu ex companheiro me tinha batido na frente da minha filha, por isto e por eu pedir duas moedas [na rua] uma vez que eu andava a fugir do meu agressor.

Tiraram-me minha filha sem motivo algum, sem me dizerem nada. Roubaram a minha filha, nos separaram da noite para a manhã, ela [presa] por um lado e eu por outro. Sabe deus o psicológico da minha filha sem ver a sua mamã e agora não sei onde está. Mas estou com advogado e amigas que me estão a ajudar.

Eu tenho o coração partido, estou de rastos sem saber com quem está minha rica filhinha, tenho o coração congelado, nunca pensei que me iam tirar a minha bebé, minha vida.

Minha amiga, tenho tantas saudades dela,  sempre tivemos uma relação muito próxima.Estava habituada todos os dias a estar com ela, almoçar juntas, íamos ao parque brincar e dar um passeio nos dias de sol. Já estou há um ano e meio sem os seus beijinhos, os seus abraços ou qualquer outro contacto físico.Vamos tentando atenuar as saudades de outra forma, com as fotos da minha pequena, mas não é a mesma coisa. Sinto falta da minha filha e sei que ela sofre também com a minha ausência.

Não deixa de ser difícil, quero muito abraçá-la mas não sei quando isso pode acontecer. Não está a ser fácil para mim. Só quero que isto acabe para poder aproveitar o máximo de tempo e recuperar a minha pequena bebé, minha vida. Quero que saibas minha querida filha que se pudesse estava a abraçar-te todos os dias e dar-te todos os beijinhos que mereces minha princesa. Mas tenho fé que pronto vamos a estar juntas meu amor.Sabes que a mamã ama-te com todo o seu coração, nunca te esqueças minha amiga, minha filha, sempre estarás no fundo do meu coração, mente e pensamento.

Tu e eu fomos presas, nos separaram com uma lei que não existe. Não há uma lei que tira os filhos se tiverem mãe. Esta justiça me tirou a minha filhinha, sem mais nem menos. Me tirou o direito de mãe, minha princesa, meu amor de mãe. Tenho tantas saudades tuas que me estão matando. Tenho o meu coração destruído. Mas tudo isto foi culpa de uma mala companhia. Meu ex companheiro que também está na cana. Maldito, destruíste minha vida e da minha filha.

 


Carta de esposa de homem preso à direção da prisão de alta segurança de Monsanto

Sou mulher de um recluso de Monsanto que lá está há quase 7 anos, eu moro a 10.000 quilômetros de distância, sou maior de idade, em pleno gozo de meus direitos, respeitosamente venho a vocês por meio deste e-mail para declarar o seguinte.

A única forma que temos de nos comunicar desde que ele foi privado de liberdade são os telefonemas que são constantemente e infelizmente alterados contra o que precisamos [para] estar [em] comunicação, também temos uma videochamada por mês de apenas 20 (vinte) minutos.

O motivo dessa reclamação é novamente em relação as ligações, como já mencionei acima, tem alterações desfavoráveis, violando constantemente nossos direitos. Os reclusos sempre tiveram 3 (três) tentativas de ligar para a pessoa com quem desejam se comunicar, e há quase 2 meses, de um dia para o outro, saiu uma “comunicação” de que só poderiam fazer uma (1) tentativa e se nessa tentativa houve falha ou a ligação não saiu, ele não tem mais o “direito” de tentar novamente. O que era normal até recentemente.

E minha pergunta é: como 1 segundo de tempo muda pressionando #Redial e tentando novamente? Acontece-nos que estamos fora e uma chamada quando não tem conexão, voltamos a tentar e ainda mais quando se trata de algo importante. E as ligações, com um preso de Monsanto, a mais de 10.000 quilômetros são tão importantes quanto qualquer comunicação que você tenha com suas famílias, que você pode fazer na hora que quiser. Uma ligação internacional custa muito para entrar na primeira tentativa, sabemos perfeitamente porque antes, quando eu tinha 3 tentativas, acontecia que na 2ª ou 3ª vez entrava e às vezes nem essas chegavam. É a única forma que temos para nos comunicar, os custos da ligação são por nossa conta, então literalmente não custa muito para o E. P em questão e por isso peço um pouco de empatia, e que por favor autorize as 3 tentativas novamente para ter uma comunicação “dentro do normal ” e os 10 minutos para 3 dias que temos. Peço encarecidamente que tenha em atenção este meu pedido, pois trata se de um simples ato de humanidade e que autorize as 3 tentativas novamente.

Semana passada, passei sem conseguir me comunicar com ele, e infelizmente não posso ligar para ele, nem ele pode ligar quando quiser, porque ele marca a ligação, por exemplo, às 15h e só o vão buscar às 17h ou até mais tarde, e aí se eu perder a ligação, eu perco a oportunidade de ouvir meu marido para saber como ele está, se ele está com alguma doença ou se ele precisa de uma cantina ou do envio de algum jornal. Infelizmente não posso ligar para descobrir como ele está pela [sua própria boca], porque não é possível. A única saída que eu tenho quando não falo com ele há dias é ligar para a Monsanto para saber se houve algum problema (foi assim que descobri que ele estava internado por Covid e  da greve dos guardas, porque eles também não tiveram a gentileza de me comunicar), e uma ligação para mim de onde estou para a Monsanto custa muito, na parte econômica, o idioma e também os maus-tratos e falta de respeito que sofri por parte da técnica do meu marido da última vez que liguei para saber dele .

Por isso, mais uma vez apelo, fazendo uso dos nossos direitos e porque defendem muito que os reclusos tenham ligação com as suas famílias para uma melhor reinserção social, que lhe possam conceder novamente pelo menos as 3 (três) tentativas de ligação como anteriormente e 3 chamadas de 10 minutos por semana. É um pequeno pedido para você, mas algo muito grande e valioso para nós.

 


“Estamos sem respiração, o que ajuda é a ventoinha e quem não tem dinheiro não pode comprar. Este tipo de janela não está na lei.”

Olá sou uma reclusa com 55 anos, levo mais de 4 anos nesta prisão.

Há um mês dei uma queda na casa de banho, fiquei 10 minutos sem me mexer a respirar devagarinho e uma colega de cela é que me auxiliou. Me pegou, sentou numa cadeira, não podia mexer a perna direita, ficando os tendões presos e joelho inchado.

A mesma perna já tinha sido partida há tempos em 2 lados, a colega de cela chamou as guardas e a única coisa que me deram foi gelo e paracetamol. Continuei com os tendões presos e com dores, andei assim um mês e hoje atualmente continuo a sofrer da perna, assim como os tendões estão presos.

Se tive alguma lesão grave cicatrizou sem que ninguém me levasse ao médico. Só após 2 meses da queda é que o médico me chamou e viu o joelho inchado e só agora marcou raio-x, não sei é para quando.

Eu agradeço,se tiver alguma lesão, quem é responsável digam-me.

Outra queixa, estamos numa camarata onde temos uma janela que tem uma rede de ferro com buraquinhos e a frente tem uma persiana que não se vê nada. 

Outro assunto que vou expor é que quando vamos ao refeitório à saída, não nos deixam trazer o nosso pão nem a fruta que nos pertence para a cela, dizem que fazem queixa ao director e cortam a precaria. Jantamos às 17.30 e só voltamos a comer ao outro dia as 8.30, passamos fome. Preferem deitar a comida no lixo do que dar as reclusas. Tenho colesterol, não dão dieta equilibrada é só gorduras, não se pode comer, ficando com fome porque não consigo comer aquela comida.

Muito obrigada pela atenção.

 


Carta sobre a escravidão numa prisão feminina…

 

Oi …,

Vim relatar a escravidão que as trabalhadoras passam na Polismar. A Polismar é uma empresa de plásticos industriais, que tem trabalho em vários E.P’S, femininos e masculinos. Aqui, trabalhamos de segunda a sexta, das 09hrs às 11:45hrs, e das 14:15hrs às 17hrs. Trabalhamos muito, fazendo escolha e montagem de peças, para ganhar no final do mês mais ou menos 50 euros. Não temos condições de trabalho! A responsável da Polismar não deixa ligar os ventiladores, reclama de irmos a casa de banho, grita e nos humilha, e sempre nos ameaça alegando que cortará o nosso prêmio e que irá demitir todas. E quando nos cortamos (usamos faca no trabalho), não tem penso nem nada. Porém, na cadeia dos homens é bem diferente. No E.P. Sintra, o ordenado é mais ou menos 150 euros por mês, tem condições dignas de trabalho e sem ameaças. Nós, mulheres, somos esquecidas e desvalorizadas, em comparação aos homens. Eu trabalho lá há …meses, e só não saí ainda, pois manchará meu percurso prisional e relatório social, porque para o sistema esse absurdo é “reinserção social.” Minha liberdade vale tudo, até passar por essa escravidão! É fudido! Mas o sistema é assim, e se não “concordarmos” com o sistema, nunca se vai embora desse inferno.


Carta sobre “um absurdo (um de vários)…na prisão”

Oi, me chamo …….., e vim contar um absurdo (um de vários) que aconteceram comigo aqui na prisão. Sou Brasileira, tenho 47 anos e estou presa há 2 anos, com uma pena de 4 anos e ___ meses. Não tenho ajuda, nem visitas. Minha mãe me ajuda como pode, pois, as coisas não estão fáceis no Brasil. Tenho uma filha de 7 anos, que me faz muita falta… Aqui no E.P., a troca de roupa é de 3 em 3 meses, e a última foi em fevereiro, porém não consegui dar baixa (sair) as minhas roupas, pois cada vez complicam mais, e não posso receber roupas de verão, estou usando roupas de inverno e passando calor. Já fiz várias tentativas:

1°- Pedi para jogarem fora e não autorizaram;

2°- Pedi para doar e não autorizaram;

3°- Pedi para sair pela visita da …. (pelo ….), e não autorizaram pois ele não está inserido no meu quadro de visitas;

4°- Pedi para inserir o… no meu quadro de visitas, mas não autorizaram pois já visita…

5° – Pedi para sair por uma reclusa, que era da minha cela e foi embora, e também não autorizaram.

6°- Pedi para ir a minha mala, que está na chefia, autorizaram, porém a guarda… não me leva até lá. Eu e várias reclusas pedimos há quase dois meses, e só enrolam a gente, e nunca nos deixam ir a mala…

Ou seja, não nos dão hipótese! O que faremos? Isto é um absurdo, pois é meu direito, mas ninguém resolve nada. Peço que me ajudem, por favor, obrigada!


Carta(s) de uma ala feminina de uma prisão

 

Olá,

[…] Aqui não nos deixam trazer nem um pão para a cela, se janta às 17h30. Nos fecham às 19h, vê lá que se janta às 17h30 e não nos deixam trazer um triste pãozinho, eu quase não como. Emagreci muito, isto é um inferno, mas pronto, assim é a vida. […]

01/2023

Ola C.,

Desejo que estejas bem.

Eu cá estou com a minha dor.
O dr.P , disse-me que fosse a falar com a psicóloga, mas eu não quero.
Aqui, temos um médico, que só vem quando ele quer, PASSA meses, sem VIR. Nós nos apontamo-nos e as poucas vezes que vem, não nos chama a todas, só está 20 minutos ou 30. Não nos faz observações como médico, quem vem dar-nos a medicação é uma enfermeira, e aqui há doenças Graves.
Nos Fecham às 19h. quando alguém está doente tocamos às portas [das celas], Demoram muito a socorrer, as pessoas, e ainda, ASSIM, Não há médicos nem enfermeira, “Algumas Guardas Fazem De médico”.
As Camaratas, são: De 5 pessoas, outra de 7, outra de 4 pessoas, e é pequena para tanta Gente, e ainda por cima estamos encurraladas, com as janelas [tapadas].
Taparam-nos As Grades com uma Rede com buraquinhos muito pequeninos. Não Entra AR, temos tipo uma persiana toda em chapa, E Não se vê NADA pra Fora, AXO que isto não está na lei, isto é uma tortura, sofremos de Ansiedade, porque não podemos respirar, e somos várias pessoas na mesma cela. Às Vezes dá-nos ataques De pânico, chamamos As Guardas, elas Vêm, mas ainda por cima Nos Gritam por que tocamos Às portas.
Mas não todas as (Guardas são Iguais.)
Algumas Guardas, quando vêm, pela manhã, os bons dias delas são A Gritar e nos poẽm Nervosas.
Isto é um Inferno, o que estamos a PASSAR.
Sem médicos, sem médico as 24 horas, Ele, só vem quando lhe apetece. Ainda Vêm tarde, e ainda por cima, Nos FALAM mal. Nós nos queixamos de dores nas costas, ou em qualquer sítio do corpo, e Ele não nos examina, só Nos manda, Nolotil, ou Ipobrofeno, e já está, e se temos uma doença GRAVE? Aqui Ficamos com a doença, até que se espalhe pelo o corPo. Só, se estamos já quase A morrer é que Nos Fazem caso.
E pronto e ASSIM sofremos Gritos, Aguentamos As Guardas, Que como Dizem Elas “Nos somos Guardas e é quando eu quero.”

02/2023


“Viver todos os dias na humilhação que nós passamos é muito triste, para 1 ser humano”

Quarta feira 8 Março 2023

Hoje por volta das 17:30 da tarde eu P. saí da cela e estava à espera que começassem a chamar para receber os meus 2 vales de correio, esperei ao pé do gradão, passado por aí 10 minutos começaram a tal chamada. Primeiro chamaram o 1º piso e depois chamaram o 2º piso, e depois por fim nunca mais chamavam o 3º piso passava o tempo e nada, então eu decidi chegar perto da guarda G. e lhe perguntar D. G. não me sabe dizer nada sobre os vales? E logo de seguida começou aos berros comigo, e partiu para cima de mim para me tentar agredir, como se eu tivesse tentado faltar ao respeito e eu lhe disse: – você não pode gritar comigo assim, eu não sou nenhum animal nem sou sua filha – e continuou a tentar me agredir e se não fosse as outras reclusas a segurar a guarda ela tinha-me agredido, essa senhora não está preparada psicologicamente para estar a lidar com a população prisional. Tem um comportamento agressivo e já tem conflito com diversas reclusas e em mim causou um desconforto emocional e psicológico provocando medo ansiedade desconforto e trauma uma vez que já estou presa 24h por dia em condições precárias onde não temos água quente, as janelas estão partidas, há muita humidade, as torneiras quebradas, e uma alimentação totalmente fora da realidade do século XXI, ás vezes passamos semanas sem comer só sobrevivemos no pão e o pão que compramos com o dinheiro que a família pode nos enviar. Os preços na cantina são totalmente o dobro da rua, e há pessoas que sofrem torturas que não são permitidas por lei como estar no manco por muito tempo.

Não temos auxílio quando estamos doentes nos mandam tomar um chá e um banho quente porque alegam que não tem ordem para abrir as portas. Há sobrelotação, nos obrigam a ficar com 5 pessoas na cela onde não tem nem 5 metros quadrados.

Tem muita confusão, negócio e tráfico de drogas a céu aberto, relatórios montados e ainda a juíza está obrigando as reclusas a saírem sem condicional cumprindo até o final da pena. Existe trabalho escravo e muita humilhação e as reclusas aguentam porque precisam de 50€ ou 60€ [o que algmas conseguem ganhar mensalmente].

Onde espancam a reclusa doente que não tem família porque dá muito trabalho. A S. tem esquizofrenia, tem reclusas na cadeira de roda sem condições. Aqui tem uma ditadura camuflada, quem ousar falar é duramente castigado. Tem homofobia, racismo, xenofobia tudo, por parte, de quem trabalha no sistema guarda que fala para reclusa que está se cagando que ela aqui não passa de uma reclusa e que a guarda aqui sou eu. Depois você quer pedir uma transferência para outro EP e vem negado pois aqui existe um negócio para reter pessoas tanto estrangeiras como portuguesas para alimentar a máquina do Estado onde este ep está inaceitavel e ninguém fecha. Onde as guardas fazem o que querem e nem a diretora sabe, voltámos à era de Hitle[r].

Por Deus quando isto vai ter fim, não há um entidade para ver isto? Guardas que não respeita!

Esta prisão está violando todos os direitos humanos estamos num tremendo sequestro Estatal, sem direitos alguns, precárias negadas, condicional negada, castigos indevidos, pessoas com problemas mentais, pessoas mantidas altamente medicadas. Um psiquiatra que é autoritário que é favorável a castigos e receita medicamentos para manter as reclusas nos castigos.

É uma ditadura que não tem fim em pleno século XXI.

O sistema separa os casais lésbicos só por que não gosta de lhe ver juntos, ou porque não lhes dá a possibilidade de estarem juntos, privando o afeto entre as pessoas.

Há um nepotismo gigantesco neste ep.

E há um favoritismo de guarda para guardas e para algumas reclusas que jogam do lado do sistema.

No bar do EP muitas vezes não tem nada, nem copos para um simples café é uma vergonha não termos nada na cantina para podermos comprar, com o pouco que a familia, nos pode mandar.

No dia 12 eu e as minhas colegas estávamos no buraco que lhe dão o nome de cela, e fomos comer abriu-se o pão e lá dentro estava um cabelo enorme. E não podemos reclamar, porque já sabemos a resposta. Aqui é um autêntico cemitério dos vivos, só chegam pessoas com problemas com drogas, com problemas psiquiátricos, pessoas que não estão aptas, para o comprimento da pena é uma autentica vergonha estar presas porque cometemos 1 crime e em vez de melhorar só pioramos, porque aqui não há ressocialização alguma e onde os maiores criminosos se encontram nesta instituição. Não temos qualquer liberdade de expressão somos pequenas marionetas do sistema.

Não podemos usufruir dos nossos direitos nem da garantia quando vamos embora deste inferno.

Quinta-feira na hora da medicação estava uma reclusa a D. a tentar resolver um problema, que se passava com ela dentro da cela nº738 e se dirigiu às guardas [que] não resolveram nada, então ela disse que se não resolvessem ela não iria para a cela, então a D. G. disse-lhe: – então vamos ver isso quando o pavilhão estiver calmo. Passado um pouco foi agredida pelo corpo de guarda prisional ficou com o olho roxo e inchado, mandaram-na contra o gradão com toda a força. E essa mulher tem problemas de saúde. Onde está alguém para lhe ajudar? A sério já não estou aguentar mais estar aqui, estou num buraco tão escuro e não sei como consigo, sair dele.

Viver todos os dias na humilhação que nós passamos é muito triste, para 1 ser humano. Por agora não tenho mais nada a dizer.

Ass: ….

PS. Obrigado por me estar a querer ajudar. beijinhos


Manifesto das Vozes de Dentro para o 8 de Março 2023

Sou mulher
Sou o começo
Sou a vida dentro da própria vida
E quero e prezo o respirar se não o tomo
arrancando as raízes profundas da marmeleira
Estou no início de toda a criação
Sou mãe, preta
Sou neta
Sou primeira e última
Sou mulher
ventos através dos mundos
escuto detrás das grades e muros
Sou mestiça, tenho brasão, moro na vila
Sou energia que passa entre as mãos
Sou a alegria de um continente e vale que obedece o sopro dos ventos
Sou o erro, o acerto inesperado
Sou a voz calada que fala as cordas do violino
Sou uma história contada em mil línguas distintas
Sou o dialeto que fala os anjos
Sou a tradução de um grito que vem do submundo
Sou a folha verde amadurecendo da fruta e a semente germinando
Sou toda a terra
o dia amanhecendo e morrendo no outro hemisfério
Sou dona do mundo, criado pelas minhas mãos e serei o próprio fim!

Texto escrito entregrades por mulheres sequestradas pelo estado português


Carta de mulher presa sobre saúde na prisão

Hoje vim falar sobre a falta de atendimento médico no E.P.
Eu tenho um problema no coração além de ter nascido com uma doença autoimune. Não me sinto bem há meses. Emagreci muito, sinto falta de ar, aparecem e somem nódoas negras nas minhas pernas. Não consigo engordar de jeito nenhum.
Pedi para ir ao médico várias vezes e de nada adiantava. Até que um dia minha pressão desceu e colocaram sal embaixo da minha língua, senão em desmaiava. No dia seguinte, na hora do almoço, passei mal comendo e levaram-me à enfermeira e minha pressão estava alta. Me perguntou o que eu tenho, eu lhe expliquei e ela viu as nódoas e a minha magreza, disse que eu deveria ser vista por um médico urgentemente.
Só fui no médico dentro do EP após OITO dias, e o médico disse que deve ser algo no coração, mas que ele não tem meios de me ajudar, visto que nem a balança funcionava adequadamente. Fez um pedido para eu realizar análises no sangue e para eu ser atendida por um cardiologista, no SNS. Me receitou medicação para a circulação sanguínea e vitamina. Comecei a tomar, e as nódoas sumiram e me sinto mais forte.
Mas, foi preciso eu passar mal no refeitório na frente de todos para o E.P. tomar uma atitude.
Agora, a próxima batalha a ganhar será esperar que o E.P. me encaminhe para um cardiologista.
Se deixar, eles nos deixam a morrer aqui!